Madrugar entre páginas
Deitara-me com a intenção maior de fazer da manhã de sábado um retomar da arte de caminhar, sem pressa. Sem o desassossego da semana que findara, um alvoroço pegado de prioridades, todas elas frisando o nome que lhes damos, prioritárias. Tudo parecia importante, tudo parecia absorver de mim toda atenção de que dispunha, não dispondo assim de atenção para mim mesma. Não a tomarei como exemplo para levar as semanas, os dias ou a vida tão pouco. Há que saber abrandar e hoje, o nascer do dia seria assim. Corro os estores e, de olhos ainda preguiçosos, contemplo os primeiros raios de sol e as primeiras árvores que se agitam aos ventos de 9ºC que dita a metereologia. Suspiro, fitando-o com o olhar. Sob a cabeceira, o "Antes que o café arrefeça" ainda repousa. Estou a poucas páginas de terminar aquele que se demorou a conquistar-me, a convencer-me a que o folheasse além das páginas iniciais. Por duas vezes não passei das dez, fechando-o, adiando a mensagem que traz a quem se permite a deixar-se levar pelo que conta. Regressei aos lençóis ainda quentes, cobrindo-me. E enquanto a brisa fresca da manhã agitava as árvores ainda sonolentas, enquanto se viam os primeiros carros surgirem na estrada, enquanto os cafés, as lojas e os parques se enchiam dos madrugadores, eu lia. Devorada cada página, sorvia cada palavra e mergulhava naquela imensidão de significados. E antes que o café arrefecesse, terminei-o e agradeci, num obrigado sentido, pela caminhada e pela aprendizagem.
Valeu a pena, valeu tanto a pena. E recomendo o percurso.