Dias demorados
Volto àquela rua que nos recebeu, de surpresa. Onde as manhãs muitas vezes se demoravam, os pequenos almoços queriam-se tardios e acompanhados por uma música calma, como os dias de chuva. Recordo os dias de tons cinzentos, de pantufas nos pés, os cheiros das ervas aromáticas, o queijo que derretia, lentamente, sobre o tabuleiro. O borbulhar da polpa de tomate caseira, miminho da mãe, e os ingredientes que se envolviam e nos faziam crescer água na boca, ansiosos pelo partilhar da refeição. Entertinhamo-nos com um filme dos tantos que coleccionávamos para ver enquanto a pizza ganhava consistência. Havia dias que arriscávamos nas pipocas até para acompanhamento! Volto a esses dias preguiçosos e ao cheiro do incenso que ardia, vagaroso, tal como nós, misturado com os múltiplos chás que fazíamos. A nossa casa repleta de aromas variados. Volto a esses dias, esses meses felizes com nostalgia. Mudámos de rua, mas nunca no vagar com que nos dedicamos. Bebo um gole de chá e ouço o jazz enquanto chove lá fora.