Estado de emergência, de carência
Que as palavras te afaguem a carência, a ânsia dos abraços por dar, dos beijos por receber. Do cheiro do café na mesa do costume no espaço preferido, o livro folheado, as páginas devoradas e partilhadas com quem se gosta, com quem abraças numa leitura dedicada. Dedica palavras, agora, mais do que nunca. Dedica tempo falado, tempo escrito, tempo presente. Abraça, apertado, a saudade pequenina da vontade de liberdade de estar, de ser puro com quem se é por inteiro, de sair pelas ruas, onde se passeia o corpo vivo, alegre e feliz por existir e viver, cada dia, com curiosidade no lugar do receio permanente. Quando o receio te bater à porta do coração, deixa-o entrar. Mas que não se demore, não deixes que se sente, que se instale. Não lhe dediques o teu tempo, sem preço. Que as palavras te afaguem a carência da mão dada, do toque no rosto ou de um simples olhar de perto, olhos nos olhos, entre quem se gosta e se quer bem. Que queiras tão bem na distância, tornando-a próxima nos gestos, no conforto do discurso atencioso, dedicado a quem te aqueça, mesmo que longe. Hoje tardo-me nas queixas, demoro-me nas coisas boas que o dia me traz, que a vida oferece.