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E se fôssemos ver o Benfica à Luz?, disse-me já passava das onze. Julguei que fosse do sono, um saudosismo repentino que lhe dera pelas ruas de Lisboa por onde caminhávamos, os três. Para minha surpresa, voltou a lançar a proposta sobre a mesa. Aceitei, sem mais demoras! O final de tarde de domingo seria diferente. Seria na Luz!
Éramos quatro, mas as sacanas das alergias desta metereologia indecisa com que andamos resolveram trocar-nos as voltas. Passámos a três. Tirámos o pó aos cachecóis e de emblema debruçado sob o peito, fizemo-nos ao estádio. Ainda mal acreditava no que estava a acontecer, confesso. Ir ao estádio da luz com o meu pai era quase que um regressar à infância, à sensação de ser pequenino e de tudo parecer enorme. É um recordar das tantas vezes que ficava eufórica quando me levava pela mão para ver o glorioso. É muito mais do que uma ida ao futebol, o vibrar com os cânticos em uníssono pela claque daquele que me é querido desde cedo. Vai para além do salto, gritando um tão ansiado "Golo!!" por cada remate certeiro à baliza do adversário ou do olhar baixo na perda de oportunidades. É a oportunidade, sim, de voltar ali, pela mesma mão de sempre. O partilhar noventa minutos de um domingo que se julgava comum a tantos outros e matar saudades de erguer as mãos ao alto, juntos, numa alegria imensa, rindo até de quem protesta ao lance mal marcado, à falta por sinalizar. Voltar à Catedral, como fervorosamente lhe chamam, é recordar uma felicidade genuína de criança, sentir uma emoção que não se explica, que só se agradece.
De olhos postos, presos naqueles truques e fintas, vi o nosso Benfica fazer bonito, num número perfeito. Vi o elevar das bandeiras, agitando-se, bem alto, envoltas numa maré de cachecois irrequietos, por entre as vozes que não se calam. Deixei que a emoção tomasse conta de mim, à flor da pele sentida, ao ver num gesto a solidariedade de um povo, as cores do azul e amarelo polvilharem as bancadas e a plateia de pé num aplauso dedicado. Porque não nos toca na pele mas toca-nos, a cada dia que passa, na alma.
Este domingo fui à Luz em família, de coração quente. E naquele instante de noventa minutos fui imensamente feliz.